A farmacêutica que fugiu com o circo. É assim que a influenciadora digital Thalita Farias Stevanovich, de 32 anos, se apresenta em suas redes sociais. Natural de São Paulo, ela se mudou para Fortaleza quando era criança, para que sua mãe pudesse ficar mais próxima de seus avós, e fez da cidade o seu lar, já traçando planos para alcançar seu primeiro projeto de vida: trabalhar na farmácia de seu pai.
Porém, o destino tinha outros planos para sua trajetória. Há nove anos, Thalita começou um relacionamento com um rapaz que viria a ser seu marido e, dois anos depois, mudou-se para o circo onde ele morava. Da relação, surgiu uma paixão por apresentar-se em conjunto no palco e, há cerca de três anos, a dupla faz performances de tiro ao alvo com flechas de carbono, durante as quais Thalita segura os alvos e seu esposo realiza os disparos.
Além de adaptar-se à nova vida e estudar para executar uma nova profissão, a farmacêutica também precisou aprender a conciliar sua rotina com seus deveres maternais. Com duas filhas, uma de seis anos e outra de um ano, ela afirma que pretende que toda a família passe a integrar as apresentações do circo. O jornal O Estado conversou com Thalita Farias Stevanovich para entender melhor como é a sua vida em um ambiente circense.
O ESTADO | Por que decidiu entrar para o circo e como foi o seu processo de adaptação?
THALITA FARIAS | “Eu decidi entrar para o circo porque conheci o meu marido. Eu não sou do circo, minha família não é do circo, não tem ninguém do circo. Conheci ele, comecei a namorar e a visitá-lo, mas, em 2016, nós nos casamos e eu fui morar no circo. Me adaptei muito fácil, porque é mais fácil alguém da cidade se adaptar a morar no circo, do que quem é de circo se adaptar a morar na cidade.
Tenho nove anos de relacionamento, moramos juntos há sete anos, mas de casada mesmo, no cartório, tenho um ano. Há sete anos, eu engravidei da minha primeira filha e vim morar aqui”.
O E. | Você já se acidentou durante uma apresentação ou em seu ambiente de trabalho? Como ocorreu?
T. F. | “Me acidentei faz dois anos. No primeiro número que eu faço, na primeira parte dele, seguro um balão com a mão para meu marido atirar. A flecha bateu na minha mão na hora do show, levei cinco pontos e passei dois meses sem me apresentar porque a dor foi insuportável. Fiquei bastante tempo com a mão inchada e, depois disso, fiquei com muito medo. Hoje em dia eu faço o número com muito medo”.
O E. | Para você, qual a melhor parte das suas apresentações?
T. F. | “Eu gosto de ver a reação do público. Como é um número de risco, as pessoas ficam bastante apreensivas, então a gente consegue perceber isso no palco quando olha para as pessoas e eu gosto de ver isso. No final, gosto de sentir o aplauso, de ver como gostaram”.
O E. | Quantas vezes vocês se mudam por ano e como é o processo de adaptação?
T. F. | “Nunca tem previsão de mudança, porque não sabemos ao certo quanto tempo vamos ficar naquela cidade, mas, por ser um circo muito grande, não passamos temporadas curtas. Então, a gente muda, por ano, umas quatro vezes, mas nunca sabemos quantas vezes vamos mudar.
A adaptação é super tranquila. Nós que moramos no circo já levamos isso de uma forma muito natural, na verdade, eu gosto. Quando chegamos em uma cidade, eu acho que estamos ali sempre a passeio e vou conhecer o lugar, peço dicas e me adapto muito bem”.
O E. | Qual a senhora acredita ser a melhor parte de morar no circo? E qual é o maior desafio?
T. F. | “A melhor parte, sem dúvidas, é conhecer vários lugares. O circo proporciona isso, a gente leva o trabalho no circo como uma diversão. Na verdade, as pessoas que vêm assistir o espetáculo de noite estão vindo se divertir, para elas é tudo muito novo, mas nós estamos ali trabalhando no lugar em que moramos e vendo o público chegar com alegria e com expectativa, eu acho isso muito incrível.
Os maiores desafios, sem sombra de dúvidas, são as mudanças, pois mexe com toda a vida. A minha carreta, por exemplo, eu saio dela, arrumo ela para viajar, ela viaja e eu, normalmente, vou de avião. Nesse período de mudança, geralmente, vou para Fortaleza, fico um tempo enquanto a carreta chega na outra cidade e é arrumada para eu viajar”.
O E. | Para você, qual a parte mais complicada de criar suas filhas em um circo e qual o maior benefício?
T. F. | “A maior dificuldade de criar as crianças num circo é a escola, mas essa questão é muito mais minha do que delas. Porque as crianças que já nasceram em um circo mudam de escola sempre, então faz parte da rotina, faz parte da vida delas, não sentem dificuldade em relação a isso. Eu sinto, porque fico sempre de coração na mão quando preciso tirar da escola.
O benefício é uma infância no circo, que, com certeza, é algo inesquecível. Uma criança de circo não tem nada a ver com uma criança de cidade. Por exemplo, as minhas filhas odeiam celular, odeiam tablets, odeiam telas, elas passam o dia todo brincando de trapézio, de bambolê e de contorção. É uma infância especial”.
Por Gabriela Guasti sob a supervisãodos editores de Geral
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