A
quatro meses e meio das eleições de outubro, os pré-candidatos à Presidência da
República se articulam para sair do isolamento e tentar unir forças. O objetivo
é que seus nomes se tornem mais atrativos para os eleitores. Nesse sentido, a
semana passada foi marcada por conversas entre Ciro Gomes (PDT), Manuela
D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (Psol). No centro, mais à direita,
Solidariedade e PP também se aproximaram, para deixar claro que a candidatura
de Rodrigo Maia não empolgou o eleitorado e que é preciso encontrar um outro
caminho.
Da
parte do PRB, do empresário Flávio Rocha, começam as conversas com Álvaro Dias,
do Podemos, embora alguns aliados de Rocha estejam dispostos a formar um bloco
com PP e Solidariedade, para ampliar o poder de negociação, seja com Dias, seja
com Geraldo Alckmin do PSDB.
Como
o registro de candidaturas é apenas em agosto, e até agora nenhum dos
pré-candidatos dos partidos de centro chegou a dois dígitos nas pesquisas, o
desfecho dessas conversas ainda vai demorar. Até porque, avaliam os políticos,
é preciso dar um tempo aos postulantes, para ver se algum deles anima o
eleitorado, uma vez que os outsiders vistos com potenciais candidatos nesse
campo desistiram.
O
ministro aposentado Joaquim Barbosa (STF), por exemplo, chegou a ter 10% nas
pesquisas sem sequer anunciar que seria candidato. A desistência dele em
concorrer à Presidência da República mexeu no quadro eleitoral e fez com que a
balança do PSB pendesse para o lado de Ciro Gomes, do PDT.
A
expectativa do PDT, de compor com partidos da esquerda, com Ciro na cabeça da
chapa, é grande. Para o líder da agremiação na Câmara, André Figueiredo (CE), o
aceno favorável do governador do Maranhão, Flávio Dino, por um embarque do
PCdoB à campanha de Ciro é animador. “Temos a esperança de que corra conosco.
Cria-se uma magnitude forte que pode orbitar com Ciro”, diz. Ele, no entanto,
não tem expectativas de que o PT e o PSOL apoiem a campanha pedetista ainda no
primeiro turno. “Não temos essa ilusão. Mas, para o segundo turno, temos
absoluta convicção de que sim”, destaca.
A
aposta do líder do PDT de, pelo menos, duas candidaturas de esquerda é
compartilhada por outros políticos. Aliás, ninguém aposta hoje numa candidatura
única de centro, ou de esquerda. O PT quer ter um nome para defender Lula,
coisa que Ciro Gomes já adiantou que não fará. Mais ao centro, a união também
não está fácil. O MDB hoje não aprovaria uma coligação com o PSDB, e
vice-versa.
Os
tucanos mantêm a cautela. O líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MT),
considera que a saída de Barbosa leva a corrida eleitoral a ter uma polarização
entre esquerda e centro. Ele tem dúvidas sobre a união entre PSB e PDT. “Não
acredito que o PSB feche oficialmente, devido à posição do Nordeste, que tem
acompanhado o PT. Mas é claro que temos um mosaico que ainda não está montado”,
pondera.
A
coligação entre tucanos e emedebistas não é impossível, mas não será
automática. “O PSDB não precisa brigar com ninguém, mas ainda não consegue
fazer nenhum tipo de aliança. Vai ter que ter muito diálogo mais para frente e,
em algumas regiões, que tem simpatia com o Geraldo (Alckmin)”, analisa. Para
ele, costuras estaduais serão fundamentais para selar uma união nacional.
Vice-líder
do governo, o deputado Beto Mansur (MDB-SP) também considera que qualquer
movimento mais consolidado ainda demora. “O governo está conversando com todo
mundo. Logicamente, essa questão vai levar algum tempo. Todos os candidatos
estão visitando as bases e rodando o país para ver se fazem alguma composição.
Quem chegar lá na frente com mais apoio deve ser escolhido como candidato do
centro”, ressalta.
Pulverização
Comedido,
o Vice-líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Izalci Lucas (DF) avalia que um
fortalecimento da campanha de Ciro pode provocar um inevitável entendimento do
centro em torno de Alckmin. Ou mesmo um embarque dos partidos de centro nas
pré-candidaturas do MDB, representada pelo presidente Michel Temer ou o
ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Mas
ele alerta que a pulverização do centro pode privilegiar os extremos. “Não
podemos dar condições de favorecer o extremismo da esquerda ou da direita”,
pondera Izalci, em referência às pré-candidaturas de Ciro e do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e de Jair Bolsonaro (PSL).
O
deputado Efraim Filho (DEM-PB), vice-líder do partido na Câmara, analisa que é
cedo cravar uma união do centro em decorrência de uma aliança da esquerda, mas
também não descarta a possibilidade. “A curto prazo, acho difícil ter essa
convergência. O centro deve esperar alguma decisão do PT. Até lá, os partidos vão
esperar e fazer a análise dos melhores pré-candidatos”, avalia.
A
avaliação dos partidos de centro é que coligações sejam anunciadas somente em
julho. Até lá, as legendas vão testar o apoio popular na tentativa de cacifar
as campanhas para, mais à frente, vender o capital político arrecadado em caso
de união. Embora reconheçam que a esquerda eventualmente venha a se fortalecer,
líderes do MDB, DEM e PSDB entendem que o momento é de conversas, namoros e
ensaios. E até o que for fechado agora pode mudar, uma vez que o prazo final
para registro de candidaturas é 15 de agosto. Ou seja, quem prometer ou fechar
um compromisso sério agora, ainda terá três meses para mudar de ideia.
Corrida
para fechar apoios
Especialistas
ouvidos pelo Jornal Correio Braziliense consideram que uma união entre PSB e
PDT colocaria pressão sobre MDB, PSDB e DEM, além de outros partidos de centro.
O cientista político Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da
Universidade de Brasília (UnB), considera que o cenário de pulverização total
não se manterá por muito tempo. “Ainda é muito difícil prever o cenário, mas o
jogo começa a mudar aos poucos. A imprevisibilidade atual não se manterá por
muito tempo. A expectativa de ampliação de recursos é um fator que deve unir os
partidos de esquerda e empurrar os outros (do centro) a criarem disposição para
fazer composições”, sustenta Calmon.
Ele
acredita que, nos próximos 30 dias, PSB e PDT vão colocar na ponta do lápis o
inevitável ganho de recursos e minutos de propaganda na tevê que uma união
entre ambos gerará. Também pesa a favor na balança as sinalizações de apoio de
caciques do PCdoB, como o governador do Maranhão, Flávio Dino.
O
analista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice, concorda que uma
coligação da esquerda pressione o centro a se movimentar. Mas acredita que há
incertezas no espectro político a serem solucionados. “O PSB ainda está
dividido entre fazer aliança com o Ciro ou não fazer nada. O PCdoB pode
embarcar em uma pré-candidatura do PT”, adverte.
As
apostas dos especialistas vão no sentido de que, quando um lado destravar, seja
à esquerda ou à direita, os demais se sentirão pressionados a fazerem o mesmo.
No caso de alianças à esquerda se fecharem primeiro, o mais pressionado seria
Alckmin, por ser o pré-candidato do espectro político melhor colocado nas
pesquisas de intenção de votos, e por ter apoio de partidos da base governista,
como PPS, PTB e PSD, avalia Noronha. “Vendo o PDT atrair aliados, não sobrariam
muitas opções ao PSDB além de intensificar as conversas com outras legendas”,
avalia.
O
PSDB, entretanto, precisa se movimentar logo, se quiser manter algum diálogo
com os demais partidos. No domingo, por exemplo, em uma entrevista publicada no
Jornal O Estado de São Paulo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi
incisivo ao dizer que o casamento entre o seu partido e o PSDB está perto do
fim. Maia afirmou ainda que se manterá candidato, porque, até agora, nenhum dos
nomes de centro obteve condições de aglutinar apoios.
As
declarações de Maia não ecoam entre os cientistas políticos. Para Noronha, por
exemplo, seria estratégico os tucanos negociarem com o DEM, pela força no
Nordeste, com o PP, que está em conversas com Ciro, e com o PR, que mantém
diálogo com a equipe de Bolsonaro.
“Será
importante para evitar que os adversários criem alianças competitivas”, alerta.
Conquistado esse apoio, o diálogo com o MDB não seria tão crucial, analisa o
especialista. “Ao mesmo tempo em que poderia dar minutos de televisão, é um
partido que traz desgastes regionais e a impopularidade de Temer”, justifica.
Com
informações do Jornal Correio Braziliense