Símbolo da transição democrática após ditadura militar, o mineiro, de São João del-Rei, será homenageado nesta segunda-feira (21) em sua cidade natal
“O doutor Tancredo trabalhou de servente comigo por 10 minutos. O presidente da República foi meu servente”, disse o pedreiro José Geraldo de Carvalho, que trabalhou com Tancredo Neves em maio de 1974.
Em São João del-Rei, cidade natal do mineiro, todos o conheciam como “Doutor Tancredo”. Advogado, administrador e fiel ao catolicismo, moradores mais antigos do município, na região Sudeste de Minas Gerais, relatam que era comum encontrá-lo na Igreja do Rosário, na missa das manhãs de domingo.
Além do amor por Nossa Senhora do Rosário, Tancredo também compartilhava a paixão pelo time Minas Futebol Clube. Ele chegou a treinar, mas não chegou a jogar. Sempre perguntava ao amigo e presidente do clube, Rômulo Camarano, sobre a situação do Minas e também ajudava financeiramente a equipe.
40 anos da morte de Tancredo Neves
Nesta data, 21 de abril, há 40 anos, em 1985, morria Tancredo Neves. Em janeiro daquele ano, ele havia superado o candidato Paulo Maluf na disputa pela Presidência da República, na última eleição indireta do Brasil.
Um dia antes da posse, durante a missa no Santuário Dom Bosco, Tancredo, então com 75 anos, passou mal, foi para casa e precisou ser internado às pressas no dia 14 de março de 1985 no Hospital de Base, em Brasília, com uma crise aguda de diverticulite — uma inflamação ou infecção de pequenas bolsas que se formam no intestino grosso. Trinta e oito dias depois, o mineiro de São João del-Rei morreu sem assumir efetivamente o cargo.
A internação de Tancredo foi acompanhada sob olhares atentos da população, que, a cada boletim médico divulgado, orava pela saúde do primeiro presidente civil após os longos anos de ditadura militar.
Mesmo com as orações, o presidente não resistiu. O coração do mineiro entrou em colapso em razão de uma infecção generalizada. Tancredo morreu em um domingo, no feriado de Tiradentes.
Trajetória
Tancredo nasceu em 4 de março de 1910. Para cursar Direito, saiu de São João del-Rei e mudou-se para Belo Horizonte.
Casou-se com Risoleta Tolentino, mineira de Cláudio, com quem teve três filhos: Inês Maria, Tancredo Augusto e Maria do Carmo.
Em 1935, concorreu ao cargo de vereador em São João del-Rei, sendo eleito também como presidente da Câmara Municipal.
A promissora carreira política de Tancredo, no entanto, foi interrompida em 1937 com o Estado Novo.
Ele voltou à atividade política com a saída de Getúlio Vargas, em 1945, sendo eleito deputado estadual em Minas Gerais entre 1947 e 1951. Foi relator da Constituição mineira de 1947 e líder da oposição na Assembleia Legislativa (ALMG).
Após o período na ALMG, atuou como deputado federal por cinco legislaturas. Na primeira delas, licenciou-se para assumir o Ministério da Justiça no governo de Getúlio Vargas, cargo que ocupou de junho de 1953 a agosto de 1954.
Tancredo também foi diretor do Banco de Crédito Real de Minas entre 1955 e 1956, e do Banco do Brasil entre 1956 e 1958. Foi secretário de Finanças de Minas Gerais de 1958 a 1960, e presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico entre 1960 e 1961.
Em 1960, disputou o governo de Minas, mas não se elegeu. Retornou ao cenário nacional como Primeiro-Ministro durante o período parlamentarista do governo de João Goulart, exercendo o cargo de 7 de setembro de 1961 a 26 de junho de 1962.
Em 1978, foi eleito senador. Em 1982, conseguiu se eleger governador de Minas Gerais.
Em 1984, no entanto, renunciou ao cargo de governador para disputar a Presidência da República pelo Colégio Eleitoral.
Corpo foi enterrado em São João del-Rei
O enterro do ex-presidente foi transmitido em rede nacional de televisão. À beira do túmulo, o então presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Silveira Guimarães, fez um discurso no cemitério da Igreja de São Francisco, em São João del-Rei.
O vice-presidente, José Sarney, tomou posse oficialmente como presidente do Brasil.
Homenagens
Neste ano, quando se completam 40 anos de sua morte, o são-joanense será homenageado em uma missa, às 9h da manhã, na Igreja de São Francisco.
Além de familiares, como o deputado e ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), o ex-presidente José Sarney também estará presente.
Rádio Itatiaia