Para a população brasileira, a democracia é o melhor sistema político que temos à disposição, apesar de funcionar mal no país, gerar desconfiança e estar ameaçada no momento. Essa conclusão é da pesquisa “A democracia que temos e a democracia que queremos”, feita pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) em parceria com a Advocacia-Geral da União – AGU e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Os resultados foram divulgados dia 10/12 e oferecem para a AGU indicativos de como tratar o tema — o órgão tem, desde 2023, a Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia para representar a União em demandas sobre o assunto.
Para Karina Nathércia Lopes, procuradora nacional da União de Defesa da Democracia, os dados da pesquisa mostram um retrato preocupante de descrença na democracia, compatível com o que é visto em outros países.
“Isso exige uma atuação mais especializada, com um olhar cuidadoso, porque a democracia precisa ser cuidada. Ela precisa ser realmente uma democracia defensiva, militante”, afirmou ela durante evento organizado pela AGU nesta semana, em Brasília.
Insatisfação
O Ipespe ouviu três mil pessoas com mais de 16 anos, entre 30 de novembro e 5 de dezembro, e concluiu que, para a maioria da população, a democracia é mesmo o melhor sistema, o preferido em relação às demais opções.
Ainda assim, a maioria dos entrevistados se disse insatisfeita com o funcionamento da democracia brasileira e avaliou que ela funciona mal, além de estar ameaçada — para 59%, o país passou por algum risco de golpe de estado recentemente.
A consequência está nos baixos níveis de confiança nos poderes. Os que dizem confiar no Supremo Tribunal Federal e na Presidência da República são 38% e 37%, respectivamente. Quando se fala do Congresso, a confiança cai para 17% — 78% dizem desconfiar dele.
Isso liga um alerta. Segundo os dados da pesquisa, há dúvida sobre o futuro da democracia no Brasil: 36% dizem que vai melhorar, outros 36% acreditam que vai piorar e 24% preveem que nada mudará.
Alerta
Na visão de Karina Lopes, essa desconfiança reforça a necessidade de a União tratar o tema da democracia como prioridade. “É preciso ter um olhar responsável e agir no papel de entrega do serviço público com eficiência.”
Ela destacou que a Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia vem agindo não só judicialmente, mas também na seara extrajudicial — principalmente no diálogo com as plataformas digitais, que, hoje, servem como palco para propaganda antidemocrática.
Um exemplo recente é o do período das enchentes no Rio Grande do Sul, quando campanhas de desinformação tentaram sabotar o trabalho, feito pela União e pelas Forças Armadas, de auxílio aos cidadãos gaúchos. As plataformas atenderam a requisições extrajudiciais e publicaram direitos de resposta esclarecendo a atuação da União e das Forças Armadas no caso.
Veja os principais dados da pesquisa:
Democracia pode ter problemas, mas é o melhor sistema
Concordam: 81%
Concordam totalmente: 58%
Concordam em parte: 23%
Discordam: 15%
Democracia é melhor do que qualquer outra forma de governo
Sim: 67%
Não: 12% (em algumas circunstâncias, um governo autoritário pode ser preferível)
Não faz diferença: 15%
Satisfação com a democracia
Insatisfeitos: 55%
Muito insatisfeito: 18%
Insatisfeito: 37%
Satisfeitos: 42%
Muito satisfeito: 8%
Satisfeito: 34%
A democracia funciona?
Funciona bem: 19%
Funciona muito bem: 3%
Funciona bem: 16%
Regular: 34%
Funciona mal: 45%
Funciona muito mal: 24%
Funciona mal: 21%
A democracia no Brasil nos próximos anos irá:
Melhorar: 36%
Ficar igual: 24%
Piorar: 36%
Fonte: site Conjur.