Após anos como símbolo de poder da Marinha do Brasil, o porta-aviões São Paulo encontrou em 2023, um final inesperado no fundo do Atlântico: afundado a 5 mil metros de profundidade e 350 km da costa brasileira. O que poderia ser apenas mais um desmonte naval tornou-se um drama internacional, marcado por proibições, desperdício de recursos e perigos ambientais.
Como um navio vendido por R$ 10 milhões gerou um gasto de mais de R$ 37 milhões para ser afundado? Descubra a jornada sem rumo do porta-aviões São Paulo da Marinha do Brasil e os detalhes dessa operação que divide opiniões e revela os desafios ambientais e logísticos brasileiro.
Marinha gastou R$ 37,2 milhões para afundar porta-aviões desativado São Paulo, que havia sido vendido por R$ 10 milhões
A Marinha do Brasil enfrentou um custo surpreendente ao afundar o porta-aviões São Paulo, o maior navio de guerra do país, que, após ser desativado, teve seu casco vendido por R$ 10 milhões. No entanto, após meses de dificuldades e custos, o que restou da embarcação foi afundado no Oceano Atlântico, a 350 km da costa brasileira, com uma profundidade de 5 mil metros.
Esse processo custou mais de R$ 37,2 milhões e envolveu 298 militares em uma operação complexa. O navio partiu do Rio de Janeiro rumo à Turquia em 2022, onde seria desmontado e reciclado. No entanto, autoridades turcas impediram a atracação, alegando preocupações ambientais, especialmente devido ao uso de amianto em sua estrutura. A decisão inesperada de barrar o São Paulo iniciou uma série de eventos que fizeram a embarcação retornar ao Brasil.
Ao retornar, os portos brasileiros também negaram abrigo ao porta-aviões São Paulo. Sem um destino seguro, a Marinha ficou com a responsabilidade de lidar com a embarcação. O casco, que navegava em círculos na costa de Pernambuco, causou preocupação ambiental e de segurança, obrigando as autoridades brasileiras a tomar uma decisão final sobre o destino do navio.
Brasil comprou o porta-aviões São Paulo por US$ 12 milhões
O porta-aviões São Paulo possui uma longa história naval. Construído na França nos anos 1950, era originalmente conhecido como Foch, sendo uma importante unidade da Marinha Francesa, participando de eventos globais, como testes nucleares no Pacífico e missões na África e Oriente Médio. Em 2000, o Brasil comprou o porta-aviões por US$ 12 milhões. No entanto, em 2005, um incêndio acelerou o declínio da embarcação, levando à sua desativação.
Em 2021, o casco foi vendido ao estaleiro turco Sök Denizcilik por R$ 10 milhões. A empresa turca, com certificação europeia para reciclagem de navios, tinha planos de desmontá-lo para sucata. Contudo, em 2022, antes que pudesse chegar ao seu destino, autoridades ambientais turcas barraram a entrada do São Paulo no Mediterrâneo, devido à presença de amianto em sua estrutura. O material, um isolante térmico eficiente, é altamente cancerígeno e foi amplamente utilizado em navios antigos.
Consequentemente, a embarcação retornou ao Brasil. Mas, enquanto era rebocada, a responsabilidade sobre o casco se tornou um dilema jurídico e logístico. Após a venda do porta-aviões da Marinha do Brasil para a Sök Denizcilik, a propriedade passou temporariamente para a transportadora MSK Maritime, que arcou com os custos do reboque. Mesmo assim, os custos de manutenção e os problemas logísticos acumulados fizeram com que a empresa renunciasse à propriedade do casco.
Por isso, a Marinha Brasileira precisou assumir novamente o controle do São Paulo, agora um problema ambiental e logístico. A embarcação navegou sem rumo fixo durante seis meses, gerando altos custos para todos os envolvidos. A MSK estimou os prejuízos em R$ 5 milhões, com uma possível escalada para R$ 10 milhões, o que intensificou o impasse sobre o que fazer com o porta-aviões.
A operação de afundamento do porta-aviões da Marinha custou R$ 37,2 milhões aos cofres brasileiros
Finalmente, a decisão de afundar o São Paulo foi tomada em fevereiro de 2023. Segundo a Marinha, uma área segura foi selecionada para o afundamento pelo Centro Hidrográfico da Marinha, longe da zona econômica exclusiva brasileira e livre de riscos ambientais. Localizada a 350 km da costa e com profundidade superior a 5 mil metros, essa área foi escolhida para evitar impactos ambientais e proteger o litoral.
A operação de afundamento do porta-aviões custou R$ 37,2 milhões aos cofres brasileiros, um valor muito superior ao que a Marinha recebeu pela venda inicial. Esse montante foi necessário para cobrir a logística e segurança da operação, além do envolvimento direto de quase 300 militares, uma mobilização significativa para dar fim ao São Paulo.
A presença de amianto foi um dos principais pontos de debate. Material comum em porta-aviões antigos da Marinha, ele era amplamente usado como revestimento térmico em áreas de alta temperatura, como válvulas e salas de máquinas. O avanço da tecnologia nuclear e a introdução de catapultas eletromagnéticas em porta-aviões modernos eliminaram a necessidade do amianto, tornando-o obsoleto, mas seus riscos ambientais persistem.
Com informações de Revista Sociedade Militar