Ela surge na puberdade e, em grande parte dos casos, não provoca sintomas. Assim, passa despercebida por anos. Só costuma ser diagnosticada quando o homem não consegue engravidar a parceira. A varicocele, principal causa reversível de infertilidade masculina, é o tema da campanha anual da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a #vemprouro, que busca incentivar adolescentes a buscarem médicos e fazerem avaliações periódicas — algo que não ocorre e, inclusive, ajuda a explicar por que a expectativa de vida de homens é menor do que a das mulheres.
“Essa é uma doença que não é diagnosticada na idade que deveria ser, porque é assintomática e o menino não vai ao urologista de forma rotineira, como a menina vai ao ginecologista. Então, ela passa completamente despercebida pelo adolescente, que só vai se dar conta de que tem essa doença anos depois, em uma avaliação de uma infertilidade conjugal”, descreve Daniel Suslik Zylbersztejn, diretor do Departamento de Urologia do Adolescente da SBU e coordenador da campanha.
A SBU tabulou dados do Ministério da Saúde que mostram que, nos últimos seis anos, de 2019 a junho de 2024, a varicocele gerou 6.031 consultas e 13.921 internações no Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Zylbersztejn, a hospitalização ocorre para cirurgia de correção, a única forma de tratamento disponível.
O grande problema é que, conforme a SBU, os dados mostram que a maioria das consultas de diagnóstico e cirurgias se dá na faixa etária de 31 a 40 anos. E pode ser tarde demais. Não que o tratamento não traga benefício, mas será menos significativo do que uma abordagem precoce. Se a gravidez natural deixar de ser uma possibilidade, homens que fazem o procedimento têm mais sucesso na fertilização em vitro, fala Zylbersztejn.
O que é a varicocele?
Varicocele são varizes na bolsa testicular. Isto significa uma dilatação de veias. Mas, por que isso é um problema?
Em primeiro lugar, é importante destacar que os testículos ficam afastados do corpo, dentro de uma bolsa, que libera bastante suor. E isso não é à toa: a produção adequada de espermatozoides, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade, depende de uma temperatura que seja 2°C abaixo da temperatura corpórea.
Acontece que a dilatação das veias nessa região, que caracteriza a varicocele, faz elas perderem a capacidade de ajudar no processo de resfriamento. “O aquecimento crônico do testículo gera, com o tempo, uma redução da produção de espermatozoides, tanto na produção quantitativa quanto na qualitativa; e pode levar até à morte celular”, explica Zylbersztejn.
Quando surge a varicocele?
Invariavelmente, ela aparece na puberdade. Esse período ocorre, em geral, por volta dos 13 anos — mas não há uma idade fixa, pode ser antes ou depois disso. O problema costuma ser hereditário/genético, embora fatores como obesidade possam ter um impacto, de acordo com Zylbersztejn.
“Ela surge justamente na adolescência, quando ocorre o estirão. O menino começa a produzir testosterona e as alterações corporais são tão grandes que, às vezes, (as veias) não conseguem aguentar a maior pressão existente pelo aumento da massa corpórea e acabam dilatando”, explica Zylbersztejn.
Não é comum, mas alguns sintomas podem surgir, como:
Sensação de peso ou inchaço nos testículos;
Dor ou desconforto nos testículos;
Redução do volume dos testículos.
Além de poder levar à infertilidade, estudos têm mostrado que a varicocele é capaz de, em alguns casos, impactar a produção de testosterona, afirma Zylbersztejn. Isso resultaria em uma perda maior do hormônio depois dos 40 anos, quando normalmente já há uma queda relevante.
“A testosterona é importante pra manter a vitalidade, uma boa ereção e a libido. A testosterona no homem é a grande gasolina para o bem-estar”, alerta.
Tratamento
Esse diagnóstico não é, porém, uma sentença. A maioria dos homens diagnosticados não desenvolverá infertilidade nem precisará de cirurgia de correção, diz Zylbersztejn.
A cada 100 meninos com varicocele moderada ou grave (graus 2 e 3), 20 apresentam infertilidade. A estimativa é de uma revisão de artigos científicos assinada por respeitados especialistas da área da urologia, como Dolores Lamb e Ranjith Ramasamy, publicada na revista Asian Journal of Andrology.
A indicação para cirurgia será feita com avaliação atenta e exames. No caso de meninos ainda não completamente desenvolvidos, de acordo com Zylbersztejn, o principal critério é haver uma diferença maior do que 20% no volume testicular — a comparação é feita entre os testículos do paciente.
Nos meninos mais desenvolvidos e no adulto, mesmo que não haja essa diferença de volume, o procedimento pode ser indicado a depender do resultado de um espermograma (exame que avalia a qualidade do esperma).
O padrão-ouro de tratamento são as microcirurgias, ou seja, usam microscópio cirúrgico. O período de internação é de 24h — se o paciente fizer o procedimento pela manhã, provavelmente receberá alta no mesmo dia, por exemplo.
A partir de que idade e com que frequência é preciso visitar o urologista?
O ideal, segundo Zylbersztejn, seria uma visita anual, a partir da puberdade. Ele destaca que, no Brasil, há menos urologistas do que ginecologistas, por exemplo, e que o mais importante é que, a partir dessa fase de grandes mudanças, o menino seja examinado, mesmo que por um pediatra, hebiatra, clínico geral ou médico da família.
“Para que ele possa receber informações e ser avaliado, assim como acontece com a menina. Se não tem urologista disponível, não tem problema. Se precisar de alguma coisa, esse outro médico encaminha para um especialista”, comenta.
“Iniciou a puberdade? Em algum momento, leve esse menino ao médico, faça uma avaliação, faça ele tirar dúvidas em relação às mudanças do corpo, ejaculação, uso da camisinha, uso de drogas, dificuldades de relacionamento”. O especialista lembra que os jovens nem sempre conseguem discutir certos assuntos com os pais, mas ficam à vontade para conversar com outras pessoas, como o médico.