segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Crise em Maceió: entenda o que é o sal-gema e por que sua extração gerou problemas

Foto: Reprodução/ Freepik
Risco de colapso em uma das 35 minas sob responsabilidade da Braskem é monitorado pela Defesa Civil de Maceió
A cidade de Maceió enfrenta dias de tensão após a prefeitura decretar situação de emergência diante do iminente colapso em uma das minas de sal-gema exploradas pela petroquímica Braskem, localizada no bairro do Mustange. Este episódio é apenas mais um capítulo de uma saga iniciada em 2018, quando afundamentos foram registrados em cinco bairros, forçando cerca de 60 mil moradores a abandonarem suas residências.

O risco de colapso em uma das 35 minas sob responsabilidade da Braskem é monitorado pela Defesa Civil de Maceió. A petroquímica confirma a possibilidade de um grande desabamento na área, alertando sobre a probabilidade de o solo se acomodar. Um eventual colapso poderia gerar um tremor de terra e abrir uma cratera maior que o estádio do Maracanã, com consequências ainda incertas. O governo federal está acompanhando de perto a situação.

Mas afinal, o que é o sal-gema? Diferentemente do sal de cozinha comum, obtido do mar, o sal-gema é encontrado em jazidas subterrâneas formadas há milhares de anos pela evaporação de porções do oceano. Essa característica faz com que o cloreto de sódio seja acompanhado por uma variedade de minerais.

Conhecido também como halita, o sal-gema é utilizado não apenas para fins culinários, sendo comum nos supermercados, mas também como matéria-prima versátil na indústria química. Ele é empregado na produção de soda cáustica, ácido clorídrico, bicarbonato de sódio, sabão, detergente, pasta de dente, entre outros produtos de limpeza, higiene e farmacêuticos.

Indústria de sal-gema em Maceió
A exploração inicial em Maceió, iniciada em 1976 pela Salgema Indústrias Químicas, tinha foco na produção de dicloroetano, utilizado na fabricação de PVC. Desde a inauguração de uma unidade industrial em 2012, a Braskem tornou-se a maior produtora de PVC do continente americano. Outras indústrias, como a de celulose e vidro, também utilizam o sal-gema em seus processos.

A exploração de sal-gema, como ocorre com outros minerais, requer licenciamento ambiental e é fiscalizada pela Agência Nacional de Mineração (ANM). No cenário internacional, o Brasil se destaca, com 7 milhões de toneladas em 2002, embora países como China (64 milhões), Índia (45 milhões) e Estados Unidos (42 milhões) liderem a produção.

Em Maceió, a empresa Salgema Indústrias Químicas iniciou a exploração em 1976, passando por estatização e privatização até se fundir com outras empresas, tornando-se a Braskem em 2002. Atualmente, a Braskem, com controle majoritário do Grupo Novonor e participação acionária da Petrobras (47%), desenvolve atividades não apenas no Brasil, mas também nos Estados Unidos, México e Alemanha. O histórico de problemas levou à suspensão da exploração em 2019, mas os desafios persistem, com moradores buscando reparação por meio de ações judiciais.

Escavação
O processo de exploração em Maceió envolvia a escavação de poços até atingir a camada de sal, que pode estar localizada a mais de mil metros de profundidade. Posteriormente, era realizada a injeção de água para dissolver o sal-gema, formando uma salmoura. Utilizando um sistema de pressão, a solução era então trazida à superfície. Após a conclusão da extração, era necessário preencher esses poços com uma solução líquida para preservar a estabilidade do solo.

O problema da exploração de sal-gema em Maceió decorreu do vazamento dessa solução líquida, resultando na formação de cavidades na camada de sal. Uma hipótese levantada por pesquisadores sugere que tal ocorrência pode estar relacionada a falhas geológicas na região. Como resultado, a instabilidade no solo desencadeou um tremor de terra sentido em março de 2018, provocando afundamentos em cinco bairros: Pinheiro, Mustange, Bebedouro, Bom Parto e Farol.

Com o surgimento de novos tremores e rachaduras em residências e vias públicas, a Braskem anunciou o encerramento da exploração das minas em maio de 2019. A petroquímica afirma ter desembolsado R$ 3,7 bilhões em indenizações e auxílios financeiros para moradores e comerciantes dessas localidades. Uma parcela dos afetados busca reparação por meio de processos judiciais. O caso também está sendo discutido em ações movidas pelo Ministério Público Federal (MPF).

Com informações da Agência Brasil.

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