segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Discussão por choro de criança termina com dois mortos em Teresina

Dois homens morreram baleados e uma mulher está em estado grave em Teresina, após uma discussão familiar motivada pela irritação de um deles pelo choro de uma criança com transtorno do espectro autista. A mulher é uma babá de nome Juliana da Silva, 36, que foi atingida por um tiro na cabeça e está internada.

Segundo a polícia, o instrutor de tiro Daniel Flauberth Gomes Nunes Leal, 38, saiu de casa para brigar com o garoto de quatro anos, na sexta (29). O menino é filho do servidor público Felipe Guimarães Martins Holanda, 37, irmão da esposa de Leal, que morava no mesmo terreno que o cunhado.

A mulher de Leal disse aos policiais que, por volta das 8h deste sábado (30), acordou com o irmão na porta de casa, carregando uma faca.

"[Holanda] perguntou 'cadê o teu marido, eu tô aqui esperando ele'. Ela pediu calma a ele. Nesse momento, Daniel [Leal] escutou e já ia descendo. Quando ele desceu, a mulher dele fechou a porta. Nesse instante o Felipe [Holanda] começa a chutar a porta, a querer arrombar", relata o delegado Francis Costa-Baretta.

O instrutor então efetuou um disparo de sua pistola 380 contra a porta, mas, em vez de acertar o cunhado, atingiu a babá que cuidava das crianças na área de lazer comum.

A discussão avançou para um confronto físico. Holanda foi atingido por um tiro na virilha e morreu após cirurgia no Hospital de Urgência de Teresina.

Segundo as investigações preliminares, a arma de Daniel Leal foi a responsável por todos os tiros disparados durante a discussão. Ele foi atingido na cabeça e morreu poucas horas depois.

Leal tinha, além da arma do crime, uma pistola 9 mm e um revolver 357, ambos em um cofre. Segundo a esposa relatou aos policiais, comprou recentemente um fuzil, que ainda não foi entregue.

"Hoje as pessoas com a prática esportiva de tiro estão conseguindo arma como se consegue um suvenir qualquer. Arma não resolve nada, te digo isso com 42 anos de polícia", afirma o delegado.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de pessoas com licenças para armas de fogo disparou no governo Jair Bolsonaro (PL) e registrou aumento de 473% em quatro anos. Em 2018, antes do presidente assumir, havia 117,4 mil registros ativos para caçadores, atiradores e colecionadores, os chamados CACs.

No ano seguinte, esse número saltou para 197,3 mil registros, uma alta de 68%, e seguiu em curva ascendente até chegar em 673,8 mil em junho deste ano —o maior valor da série histórica, que começou em 2005.

Além disso, o anuário mostra que o Brasil tem 2,8 milhões de armas de fogo particulares, um aumento de 39% em relação a 2020, quando o país registrava pouco mais de 2 milhões de armamentos particulares.

O governo Bolsonaro editou até o momento 19 decretos, 17 portarias, duas resoluções, três instruções normativas e dois projetos de lei que flexibilizam as regras para ter acesso a armas e munições.

Para especialistas ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo, a série de medidas enfraqueceu um dos principais pilares do Estatuto do Desarmamento, a proibição de o cidadão comum andar armado, e causa insegurança jurídica.

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