Nas últimas semanas, Gusttavo Lima se viu dentro de um escândalo que expôs os cachês milionários pagos sem licitação por prefeituras de cidades pequenas a alguns artistas. A repercussão do caso, que levou Lima a se explicar às lágrimas em uma live, tem assustado colegas do sertanejo.
Cleber, que faz dupla com Cauan, é um deles. Segundo o cantor, episódios como esse colocam parte do público “contra” o artista -e isso acaba por prejudicar a música em geral. “Esse ‘boom’ nos assusta, claro. Todo mundo virou alvo. Trouxe coisas negativas para o mercado sertanejo. Essa exposição não é boa para ninguém”, afirma.
Sobre os valores pagos aos sertanejos, Cleber diz acreditar que os cachês sejam sazonais. “Eles podem aumentar de ano a ano, dependendo do momento que o artista vive”, diz ele, sem mencionar o uso do dinheiro público ou a Lei Rouanet, durante conversa com à Folha de S.Paulo.
O próprio artista dá um exemplo sobre o cachê cobrado pela dupla. “Nós, Cleber e Cauan, comprovamos tudo por nota fiscal em cada apresentação. Se coloco o valor de um show em R$ 200 mil, tenho uma nota que comprova que é o valor praticado no mercado naquele momento. A gente se cerca de tudo certinho e trabalha assim para não ter problemas com o Ministério Público”, revela.
Apesar dos cuidados, o cantor afirma que a Promotoria já quis saber dos cantores o motivo de seus shows valerem R$ 100 mil a mais de um ano para outro. “Essa é a luta do sertanejo. A cada ano, o artista pode estar maior ou menor, e é normal”, reforça o artista que diz acreditar que haja muita “briga política e polarização” sobretudo depois da discussão pública do cantor Zé Neto contra Anitta e a Lei Rouanet.
“Estamos aqui em Sorriso, Mato Grosso, um dos estados que sustentou o Brasil durante a pandemia. Nós somos artistas que não dependem de Lei Rouanet. Nós não precisamos fazer tatuagem no toba para mostrar se a gente está bem ou não”, disparou Zé Neto na ocasião, em referência à tatuagem íntima feita por Anitta em 2021.
A partir desse comentário, vieram a público casos de músicos que cobram cachês milionários de prefeituras sem recorrer à Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), dispositivo atacado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
Houve ocasiões em que a verba para os shows foram desviadas de investimentos que seriam destinados a áreas como infraestrutura, ambiente, saúde e educação, o que motivou uma onda de indignação nas redes. Isso fez com que internautas pedissem a criação da CPI do Sertanejo.
A polêmica e as denúncias vieram bem na hora em que os artistas voltam à estrada e às apresentações ao vivo, depois do isolamento forçado por causa da pandemia. A dupla, por exemplo, gravou na última terça-feira (31) em Goiânia, a terceira edição do DVD “Resenha”.
A proposta é a de um retorno à origem do sertanejo. No projeto, ambos cantaram moda de viola, algumas canções inéditas e sucessos da trajetória de 13 anos. Na visão de Cleber, o novo trabalho é ainda mais importante depois do “pesadelo” que foi a longa internação de Cauan, em 2020, por causa da Covid.
“A pandemia e esse episódio serviram para que nós valorizássemos ainda mais o que importa e trabalhássemos menos. Antes a gente não podia ficar uma quinta-feira de folga, e hoje sabemos o que é realmente importante na vida.”