quarta-feira, 8 de junho de 2022

Áudio apresentado na “CPI do Motim” aponta suposta tentativa de tráfico de influência do presidente da APS

Após divulgação de áudio, Cleyber Araújo foi orientado por seu advogado a permanecer em silêncio. Foto: ALCE
A “CPI do Motim” passou por uma reviravolta nesta terça-feira (07) após divulgação de áudio apresentado pelo relator Elmano de Freitas (PT), em que o depoente do dia, Cleyber Araújo, presidente da Associação dos Profissionais de Segurança (APS), aparece, supostamente, negociando R$ 400 mil para obtenção de liminar. Após ouvir os áudios, o dirigente da entidade foi orientado por seu advogado a permanecer em silêncio, e ele não respondeu aos questionamentos feitos a posteriori. Cleyber, sendo Elmano, agora estará na condição de indiciado.

De acordo com a gravação, pessoas estariam reunidas e discutindo como fariam para conseguir limiar junto à justiça, e em determinado momento alguém propõe uma negociação com uma terceira pessoa, que cobraria dois meses de arrecadação da Associação naquele momento, ou seja, algo em torno de R$ 400 mil. Esse valor, inclusive, motivou novo depoimento de Cleyber Araújo nesta terça-feira, a pedido do deputado Marcos Sobreira (PDT).

Antes da divulgação do áudio, o dirigente apresentou documento sobre os serviços de advocacia no valor de R$ 400 mil, que segundo ele, tratava-se de serviço de consultoria e treinamento para dois advogados da Associação.  Ainda de acordo com ele, o outro documento entregue à CPI estava “equivocado”, mas nada teria sido alterado. “Nada foi alterado. O que alterou foi que esse está com a assinatura original”, justificou.

Para Elmano de Freitas, o que está no áudio é um fato grave que não interfere apenas na APS, mas “em outras coisas maiores”. Ainda de acordo com o relator, após suspensão de descontos para as associações, algumas dessas entidades conseguiram liminares que permitiram a obtenção dos descontos, enquanto que a Associação dos Profissionais de Segurança não conseguiu. “A APS começou a não honrar com seus compromissos. E talvez começou a atrasar salários e começou a se encontrar em situação de desespero”, disse.

De acordo com as falas no áudio alguém diz “isso é contra a nossa essência, mas na guerra a gente faz coisas que não concorda”. “Alguém ofereceu o serviço e alguém, por desespero, pode ter aceitado”, apontou Elmano de Freitas. Na conversa, um dos homens fala na possibilidade de levar ações dos consignados para outras instâncias da Justiça, em Brasília, o que envolveria o montante negociado de R$ 400 mil.

Elmano de Freitas afirmou que iria solicitar à CPI que Cleyber passasse para a condição de indiciado e não mais de testemunha, e também destacou que vai pedir a perícia do áudio, além da quebra sigilo bancário e fiscal da pessoa que foi contratada para a suposta capacitação de advogados  “para irmos vendo o percurso desse recurso. Vou juntar o áudio aos altos para que temos a confirmação que é a voz de vossa senhoria”, disse o relator.

“Não tenho dúvida que o áudio está posto e a voz é do presidente da APS. Primeiro ele disse que tinha uma advogado para atuar no processo, agora o contrato é para capacitação do processo. Está negociando para fazer tráfico de influência para dar certo a liminar. O contrato do advogado que virou contrato de capacitação. O áudio diz que não era nem uma coisa e nem outra” – (Elmano de Freitas)

Salmito Filho, presidente do colegiado, fez os devidos encaminhamentos. Segundo ele, o áudio será periciado, e se a voz, de fato, foi de Cleyber Araújo, a investigação prosseguirá. “Se a perícia disser que não é, vai perder o valor”, afirmou. Ainda de acordo com ele, durante todo o trabalho do colegiado, nenhum dado vazou para qualquer veículo de comunicação. “Isso é uma demonstração de zelo e cuidado”.

Quebra de sigilo

Os próximos passos da CPI, segundo o relator: juntar o áudio à Polícia Civil para confirmação da voz do depoente; apresentação de requerimento da quebra de sigilo fiscal do que está apresentado no contrato; solicitação à entidade das contas para as quais foram enviados os contratos.

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