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Marcia Cavallari, diretora executiva
do Ibope Inteligência, ficou recentemente sensibilizada ao acompanhar os
depoimentos de entrevistados em uma pesquisa qualitativa promovida por seu
instituto. Reunidos em volta de uma mesa e convidados a falar sobre suas
expectativas em relação ao futuro, grupos de eleitores de perfis diversos só
manifestaram desesperança e angústia. "Foi uma tristeza", disse ela,
em entrevista ao jornal O Estado de s. Paulo.
De acordo com Marcia, os
levantamentos do Ibope mostram um eleitorado "sem perspectiva de
melhora". Existe uma abertura para candidatos que representem o
"novo", mas, ao mesmo tempo, um temor de uma pessoa sem muita bagagem
política possa piorar a situação do País. Leia a seguir os principais pontos da
entrevista:
Os
pré-candidatos mais conhecidos têm taxas muito altas de rejeição, até maiores
que seus porcentuais de intenção de voto. Qual será o impacto disso?
Uma questão que a gente vê nas
pesquisas é que os eleitores estão sem perspectiva de melhora. Não conseguem
ver como sair desse lugar em que estamos, não conseguem enxergar uma luz no fim
do túnel. Os eleitores não conseguem identificar, nesses candidatos todos, qual
conseguiria tirar o País da situação em que está. Pode ser que, quando começar
a campanha, as coisas fiquem mais claras e possam identificar uma perspectiva.
Há uma desconfiança também porque os eleitores estão mais atentos para não se
deixar levar por promessas mirabolantes, por ideias que são inexequíveis. Essa
questão da desesperança, de não conseguir enxergar uma solução, é um sentimento
muito sofrido, muito mesmo. Nós percebemos isso em pesquisas qualitativas. São
pessoas de classes mais altas, de classes mais baixas, todo mundo batalhando e
as coisas não andam, está tudo amarrado.
O
desânimo em relação aos políticos tradicionais leva a uma maior abertura a
novidades?
Há uma posição dúbia em relação ao
novo. Eles percebem que a situação é muito complexa e que talvez um candidato
que represente o totalmente novo possa piorar ainda mais o quadro. Querem
mudança? Querem. No jeito de fazer política, no jeito de lidar com o serviço
público, com o dinheiro público. Mas não necessariamente esperam um "novo
do novo", porque isso também geraria insegurança. Eles esperam uma certa
bagagem. Há esse temor de que fique pior.
Até
agora é uma eleição sem favoritos, o que atrai muitos candidatos. Por outro
lado, partidos menores têm poucos recursos e precisam investir em campanhas de
deputados. A lista de presidenciáveis tende a encolher?
Deve ser a primeira eleição desde
1989 sem (o ex-presidente) Lula, que tem um peso específico, que vai além de
seu partido. Um ponto importante é que, apesar da baixa preferência partidária
dos brasileiros, há cerca de 30% com simpatia pelos partidos de esquerda. Sem o
Lula, o que pode acontecer é uma reorganização dos partidos de esquerda, para
que não percam essa fatia do eleitorado. Hoje o cenário é de muitos possíveis
candidatos, com baixa intenção de voto. Os únicos com taxas significativas são
Lula, Bolsonaro e Marina. O voto está muito pulverizado. Acho que deve acabar
ocorrendo uma recomposição dos partidos, de maneira que não tenhamos tantos
candidatos concorrendo. Será uma campanha curta, que terá emoção até o último
momento.
Até
que ponto as redes sociais tornam o eleitorado mais volátil, mais sujeito a
mudanças bruscas?
As redes têm um papel mais
importante, sim, a cada ano a mais usuários. Sabemos que os eleitores citam
cada vez mais as redes como fonte de informação. Mas ainda não temos como medir
o quanto elas influenciam a decisão de voto.
Como
a desinformação afeta o voto?
Em relação às notícias falsas, nossas
pesquisas mostram que os eleitores se preocupam muito com isso. Eles acham que
o ambiente da internet é mais propício para as pessoas divulgarem e passarem
notícias falsas sem checar a fonte. Sabem e declaram que não podem acreditar em
tudo o que veem na internet. A credibilidade maior é dos veículos de
comunicação tradicionais: jornal, rádio, TV. É onde se sentem mais seguros em
relação à informação que recebem. Existe interesse maior pelas notícias
políticas. É claro que isso se verifica de maneira mais forte nos grupos
urbanos e de maior escolaridade, mas também vemos essa preocupação de buscar
mais informação nas classes mais baixas.
Como
o eleitor pode saber se uma pesquisa é confiável?
Primeiro, todas as pesquisas que são
divulgadas têm de ser registradas no site do TSE. O registro dá transparência
ao processo. É possível ver a maneira como a pesquisa está sendo feita, ler o
questionário, saber quem é o contratante, verificar o preço que está sendo
pago. Há preços lá que são inexequíveis. Impossível fazer uma pesquisa com um
custo tão baixo. É claro que metodologia é uma coisa muito técnica, mas só de
olhar o eleitor vai ter alguns indícios de como cada instituto está
trabalhando. Uma coisa que fica nítida é a diferença de preços entre institutos
tradicionais e conhecidos e os outros. Até o dia 8 de abril, havia 88 pesquisas
registradas no TSE. Cerca de 40 eram de empresas não associadas à ABEP
(Associação Brasileira das Empresas de Pesquisas). Ou seja, não sei quem são.
Além disso, em todos esses casos, o contratante é a própria empresa de
pesquisa.
É
algo inusual um instituto fazer pesquisa com recursos próprios?
Essa coisa de fazer tudo por conta
própria é estranha. Nós já fizemos, mas é raro. Às vezes fazemos porque há algo
importante acontecendo e nenhum cliente contrata pesquisa naquele momento. Há
casos em que o cliente contratou um calendário e acontece um fato importante no
intervalo de duas pesquisas. Aí fazemos uma extra e doamos para o cliente. Mas
é estranho fazer várias pesquisas com recursos próprios.
Isso
seria um indício de que eles estariam ocultando o contratante, alguém com
interesse no resultado da pesquisa?
Há
que se deduzir isso. Não se sabe que interesse haveria em um instituto ficar
gastando seus recursos com pesquisas. É um indício de algo esquisito. Também se
deve prestar atenção nos resultados dos diferentes institutos. As pesquisas
mostram uma tendência ao longo do tempo. O fenômeno que está sendo medido por
todos é o mesmo, então todos devem mostrar uma tendência semelhante, mesmo que
os números não sejam exatamente os mesmos. Se um instituto apresenta resultados
muito díspares, é preciso procurar entender a razão. As informações são do
jornal O Estado de S. Paulo.
Agência
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