segunda-feira, 14 de maio de 2018

A QUATRO MESES E MEIO DAS ELEIÇÕES, POLÍTICOS ENFRENTAM DIFICULDADES PARA FECHAR ALIANÇAS


A quatro meses e meio das eleições de outubro, os pré-candidatos à Presidência da República se articulam para sair do isolamento e tentar unir forças. O objetivo é que seus nomes se tornem mais atrativos para os eleitores. Nesse sentido, a semana passada foi marcada por conversas entre Ciro Gomes (PDT), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (Psol). No centro, mais à direita, Solidariedade e PP também se aproximaram, para deixar claro que a candidatura de Rodrigo Maia não empolgou o eleitorado e que é preciso encontrar um outro caminho.

Da parte do PRB, do empresário Flávio Rocha, começam as conversas com Álvaro Dias, do Podemos, embora alguns aliados de Rocha estejam dispostos a formar um bloco com PP e Solidariedade, para ampliar o poder de negociação, seja com Dias, seja com Geraldo Alckmin do PSDB.

Como o registro de candidaturas é apenas em agosto, e até agora nenhum dos pré-candidatos dos partidos de centro chegou a dois dígitos nas pesquisas, o desfecho dessas conversas ainda vai demorar. Até porque, avaliam os políticos, é preciso dar um tempo aos postulantes, para ver se algum deles anima o eleitorado, uma vez que os outsiders vistos com potenciais candidatos nesse campo desistiram.

O ministro aposentado Joaquim Barbosa (STF), por exemplo, chegou a ter 10% nas pesquisas sem sequer anunciar que seria candidato. A desistência dele em concorrer à Presidência da República mexeu no quadro eleitoral e fez com que a balança do PSB pendesse para o lado de Ciro Gomes, do PDT.

A expectativa do PDT, de compor com partidos da esquerda, com Ciro na cabeça da chapa, é grande. Para o líder da agremiação na Câmara, André Figueiredo (CE), o aceno favorável do governador do Maranhão, Flávio Dino, por um embarque do PCdoB à campanha de Ciro é animador. “Temos a esperança de que corra conosco. Cria-se uma magnitude forte que pode orbitar com Ciro”, diz. Ele, no entanto, não tem expectativas de que o PT e o PSOL apoiem a campanha pedetista ainda no primeiro turno. “Não temos essa ilusão. Mas, para o segundo turno, temos absoluta convicção de que sim”, destaca.

A aposta do líder do PDT de, pelo menos, duas candidaturas de esquerda é compartilhada por outros políticos. Aliás, ninguém aposta hoje numa candidatura única de centro, ou de esquerda. O PT quer ter um nome para defender Lula, coisa que Ciro Gomes já adiantou que não fará. Mais ao centro, a união também não está fácil. O MDB hoje não aprovaria uma coligação com o PSDB, e vice-versa.

Os tucanos mantêm a cautela. O líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MT), considera que a saída de Barbosa leva a corrida eleitoral a ter uma polarização entre esquerda e centro. Ele tem dúvidas sobre a união entre PSB e PDT. “Não acredito que o PSB feche oficialmente, devido à posição do Nordeste, que tem acompanhado o PT. Mas é claro que temos um mosaico que ainda não está montado”, pondera.

A coligação entre tucanos e emedebistas não é impossível, mas não será automática. “O PSDB não precisa brigar com ninguém, mas ainda não consegue fazer nenhum tipo de aliança. Vai ter que ter muito diálogo mais para frente e, em algumas regiões, que tem simpatia com o Geraldo (Alckmin)”, analisa. Para ele, costuras estaduais serão fundamentais para selar uma união nacional.

Vice-líder do governo, o deputado Beto Mansur (MDB-SP) também considera que qualquer movimento mais consolidado ainda demora. “O governo está conversando com todo mundo. Logicamente, essa questão vai levar algum tempo. Todos os candidatos estão visitando as bases e rodando o país para ver se fazem alguma composição. Quem chegar lá na frente com mais apoio deve ser escolhido como candidato do centro”, ressalta.

Pulverização

Comedido, o Vice-líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Izalci Lucas (DF) avalia que um fortalecimento da campanha de Ciro pode provocar um inevitável entendimento do centro em torno de Alckmin. Ou mesmo um embarque dos partidos de centro nas pré-candidaturas do MDB, representada pelo presidente Michel Temer ou o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Mas ele alerta que a pulverização do centro pode privilegiar os extremos. “Não podemos dar condições de favorecer o extremismo da esquerda ou da direita”, pondera Izalci, em referência às pré-candidaturas de Ciro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e de Jair Bolsonaro (PSL).

O deputado Efraim Filho (DEM-PB), vice-líder do partido na Câmara, analisa que é cedo cravar uma união do centro em decorrência de uma aliança da esquerda, mas também não descarta a possibilidade. “A curto prazo, acho difícil ter essa convergência. O centro deve esperar alguma decisão do PT. Até lá, os partidos vão esperar e fazer a análise dos melhores pré-candidatos”, avalia.

A avaliação dos partidos de centro é que coligações sejam anunciadas somente em julho. Até lá, as legendas vão testar o apoio popular na tentativa de cacifar as campanhas para, mais à frente, vender o capital político arrecadado em caso de união. Embora reconheçam que a esquerda eventualmente venha a se fortalecer, líderes do MDB, DEM e PSDB entendem que o momento é de conversas, namoros e ensaios. E até o que for fechado agora pode mudar, uma vez que o prazo final para registro de candidaturas é 15 de agosto. Ou seja, quem prometer ou fechar um compromisso sério agora, ainda terá três meses para mudar de ideia.

Corrida para fechar apoios

Especialistas ouvidos pelo Jornal Correio Braziliense consideram que uma união entre PSB e PDT colocaria pressão sobre MDB, PSDB e DEM, além de outros partidos de centro. O cientista político Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), considera que o cenário de pulverização total não se manterá por muito tempo. “Ainda é muito difícil prever o cenário, mas o jogo começa a mudar aos poucos. A imprevisibilidade atual não se manterá por muito tempo. A expectativa de ampliação de recursos é um fator que deve unir os partidos de esquerda e empurrar os outros (do centro) a criarem disposição para fazer composições”, sustenta Calmon.

Ele acredita que, nos próximos 30 dias, PSB e PDT vão colocar na ponta do lápis o inevitável ganho de recursos e minutos de propaganda na tevê que uma união entre ambos gerará. Também pesa a favor na balança as sinalizações de apoio de caciques do PCdoB, como o governador do Maranhão, Flávio Dino.

O analista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice, concorda que uma coligação da esquerda pressione o centro a se movimentar. Mas acredita que há incertezas no espectro político a serem solucionados. “O PSB ainda está dividido entre fazer aliança com o Ciro ou não fazer nada. O PCdoB pode embarcar em uma pré-candidatura do PT”, adverte.

As apostas dos especialistas vão no sentido de que, quando um lado destravar, seja à esquerda ou à direita, os demais se sentirão pressionados a fazerem o mesmo. No caso de alianças à esquerda se fecharem primeiro, o mais pressionado seria Alckmin, por ser o pré-candidato do espectro político melhor colocado nas pesquisas de intenção de votos, e por ter apoio de partidos da base governista, como PPS, PTB e PSD, avalia Noronha. “Vendo o PDT atrair aliados, não sobrariam muitas opções ao PSDB além de intensificar as conversas com outras legendas”, avalia.

O PSDB, entretanto, precisa se movimentar logo, se quiser manter algum diálogo com os demais partidos. No domingo, por exemplo, em uma entrevista publicada no Jornal O Estado de São Paulo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi incisivo ao dizer que o casamento entre o seu partido e o PSDB está perto do fim. Maia afirmou ainda que se manterá candidato, porque, até agora, nenhum dos nomes de centro obteve condições de aglutinar apoios.

As declarações de Maia não ecoam entre os cientistas políticos. Para Noronha, por exemplo, seria estratégico os tucanos negociarem com o DEM, pela força no Nordeste, com o PP, que está em conversas com Ciro, e com o PR, que mantém diálogo com a equipe de Bolsonaro.

“Será importante para evitar que os adversários criem alianças competitivas”, alerta. Conquistado esse apoio, o diálogo com o MDB não seria tão crucial, analisa o especialista. “Ao mesmo tempo em que poderia dar minutos de televisão, é um partido que traz desgastes regionais e a impopularidade de Temer”, justifica.
Com informações do Jornal Correio Braziliense




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