Movimentos como o Acredito,
surgidos na esteira de manifestações, anunciam como meta a renovação de um
terço do Congresso até 2027 ( Foto: Agência Brasil )
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Surgidos na esteira de
mobilizações populares que buscam erguer, nas ruas ou na Internet, uma bandeira
de renovação política, movimentos autodenominados suprapartidários querem, em
2019, ocupar espaços de poder. Dentre alguns em atividade no País, como o
Movimento Acredito, o Agora, o Brasil 21, o Movimento Transparência e outros,
uma iniciativa financiada por empresários e setores da sociedade civil, chamada
RenovaBR, oferece, a partir deste domingo (21), uma formação política a
“cidadãos comuns” que possa ser aplicada em futuras campanhas. Neste e em
outros casos, o discurso de que é preciso “renovar” a política, contudo, ainda
esbarra em dificuldades de financiamento e nas próprias regras da disputa
eleitoral, além de não estar imune a críticas de partidos e outros movimentos.
Dentre 100 brasileiros
selecionados para o RenovaBR, após cinco fases de recrutamento, dois são
cearenses. Eles receberão, nos próximos seis meses, um treinamento com
especialistas – presencial, em São Paulo, e à distância – voltado à
potencialização de novas lideranças políticas no Brasil. Com a aposta, o
movimento pretende eleger ao menos 45 pessoas, que nunca tenham exercido nenhum
cargo eletivo, no pleito de outubro próximo.
Discurso
O empreendedor social Ítalo
Alves, 25 anos, e o radialista Júnior Gonçalves, 34 anos, foram os dois
inscritos do Ceará que passaram pelo processo seletivo do RenovaBR. Eles
defendem que a renovação sustentada pelo movimento vai além do discurso fácil
que deve ser explorado na disputa eleitoral de 2018 e, embora filiados ao mesmo
partido, a Rede Sustentabilidade, destacam a presença de filiados a diversas
legendas partidárias no programa. Para os cearenses, isso indica que pautas
comuns aos participantes, que receberão bolsas de R$ 5 mil mensais, estão acima
de divergências ideológicas.
Pré-candidato a deputado
federal, Ítalo Alves, de Fortaleza, é líder do Movimento Acredito no Ceará.
Criada em julho de 2017, a iniciativa tem, atualmente, 40 voluntários no
Estado, mas, segundo ele, contabiliza mais de mil envolvidos em outras unidades
da federação. “A proposta é trazer as pessoas comuns para mais perto da
política”, resume.
Ítalo Alves reconhece que,
entre uma legislatura e outra, 40% das cadeiras da Câmara, em média, são
ocupadas por novatos. Segundo ele, porém, isso, isoladamente, não representa
renovação. “Não basta você ser uma pessoa nova, mas ser filho de político; ou
você ser um jovem, mas ter um posicionamento conservador, que não reflete mais
o contexto econômico do nosso País; não basta você ter uma ideia, mas essa
ideia ser extremista”, sustenta. Ele argumenta que movimentos como o Acredito e
o RenovaBR compreendem a renovação política inserida em um “tripé”, formado por
pessoas, práticas e princípios.
Políticos tradicionais
Filho e morador de Russas,
Júnior Gonçalves, por sua vez, opina que é preciso “ter muito cuidado com esse
discurso de renovação”, uma vez que, conforme avalia, “os velhos (políticos)
também vão vir com esse discurso, colocando seus parentes, seus homens de
confiança”.
Ele já tentou emplacar o
discurso de renovação em dois pleitos: em 2008, filiado ao PRB, foi candidato a
vereador de Russas, enquanto em 2016, quando migrou para a Rede, decidiu
disputar o cargo de prefeito. Embora não tenha sido eleito nas duas investidas,
o radialista diz que teve votações satisfatórias para campanhas sem estrutura.
Neste ano, Júnior tentará chegar à Assembleia Legislativa.
Para os dois, o RenovaBR pode
ser um trampolim. Idealizado pelo empresário Eduardo Mufarej, CEO da Somos
Educação e presidente da Confederação Brasileira de Rúgbi, o programa foi
anunciado no segundo semestre de 2017 e tem o apoio de nomes como o
ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o empresário Abílio Diniz e o
apresentador Luciano Huck. Ítalo Alves explica que, após cinco etapas de um
processo seletivo com quatro mil candidatos, o RenovaBR busca atuar em quatro
frentes: identificação de jovens, formação de novas lideranças, potencialização
das campanhas e monitoramento de mandatos.
“São pessoas de diferentes
partidos: da Rede, do Novo, do PT, imagino, de diversos partidos. E têm
divergências, mas se encontram nas pautas”, explica. “A nova política é isso.
Não é uma política de disputa partidária, é política de convergência de causas,
e é isso que o programa tenta fazer”, acrescenta.
Diante de campanhas ainda
caras, com teto de gastos estimados em R$ 2,5 milhões para deputados federais e
R$ 1 milhão para deputados estaduais, tanto Ítalo quanto Júnior reconhecem que,
para pretensos candidatos surgidos desses movimentos, o financiamento das
candidaturas é desafio maior. O empreendedor social pretende, na disputa, unir
ações de mobilização de rua, de mobilização digital e financiamento coletivo.
Júnior Gonçalves espera que o partido, por meio do Fundo Partidário, lhe dê “as
condições mínimas” para tocar a campanha.
Ideias liberais
Desde que foi anunciado, o
RenovaBR tem sido alvo de críticas de partidos e movimentos de esquerda porque
é visto, por alguns, como meio de financiar candidatos alinhados a
posicionamentos liberais. Questionado sobre uma futura influência do programa,
sustentado por empresários, na atuação política dos pretensos candidatos, após
a Operação Lava-Jato ter trazido à tona escândalos enraizados em ações ilegais
orquestradas entre o poder público e a iniciativa privada, Ítalo Alves diz que
os bolsistas não têm que estar atrelados a interesses dos financiadores. “O
Renova é financiado tanto por empresários como por pessoas da sociedade civil,
só que o regulamento diz que essas pessoas não têm qualquer forma de
influenciar os posicionamentos do movimento”, coloca.
Segundo ele, há apenas seis
tópicos com os quais o movimento quer que os participantes se comprometam:
combate irrestrito à corrupção; gestão fiscal responsável; priorização do
cidadão em detrimento da máquina pública; políticas sociais que eliminem a
desigualdade de acesso à educação básica, saúde e segurança de qualidade;
respeito às liberdades individuais; e gestão sustentável dos recursos naturais.
“Acho que o grupo não pensa especificamente em um Brasil que se deita para a
direita nem para a esquerda, mas num Brasil que se impulsiona para frente”,
defende Ítalo Alves.
Fonte: DN/Política