Desconfiança, revolta e frases
do tipo: "vou anular meu voto, porque vão continuar os mesmos que estão
aí". É isso o que alguns deputados estaduais, entrevistados pelo Diário do
Nordeste, já têm ouvido ou temem ouvir da população, ao longo deste ano, nas incursões
pelos municípios cearenses em busca de votos para conquistar a reeleição. Não é
novidade que sucessivos escândalos de corrupção, somados à crise econômica
nacional, têm levado a um descrédito "generalizado" dos brasileiros
em relação à classe política. Próximo às eleições, porém, o cenário de
"repúdio" tem preocupado parlamentares na hora do corpo a corpo com
os eleitores.
Deputado Osmar
Baquit / (Foto: Assembleia Legislativa do Ceará)
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Apesar da desconfiança do
eleitorado, vista como "natural", deputados consideram que estar
"olho a olho" com o eleitor ainda é a ação mais importante na corrida
eleitoral. Tanto que, para demonstrar credibilidade, além de divulgar serviços
que conseguiram levar aos municípios, eles devem priorizar o fato de que não
têm ficha suja. O deputado Osmar Baquit
(PSD), por exemplo, avalia que é "impossível" fazer tudo o que
prometeu, mas enfatizará no pleito que não responde a processos por
envolvimento em irregularidades.
"Lógico que o eleitor está
descrente com a política, com tanta desonestidade. Uma parte da classe política
vem sujando a política, e a política não é isso de roubo, desonestidade, é uma
coisa boa, são maus que deturpam. Então é lógico que eu espero ter um
reconhecimento de onde eu trabalhei, como trabalho mais na zona rural, de levar
abastecimento de água, energia, trator, poços profundos, adutoras de engate
rápido. E cabe a gente ter a consciência tranquila de ter uma ficha limpa e ter
feito um bom serviço nos municípios que nós atuamos", argumentou.
Atrelada à crise política,
Baquit acredita que a recessão econômica deve exercer influência sobre a visão
das pessoas em relação aos políticos. "Muitas atribuem que isso se deve à
questão dos desvios públicos, embora eu não tenha um processo na vida, mas,
naturalmente, dizem que todos são desonestos".
Deputado Sérgio Aguiar / (Foto: Assembleia Legislativa do
Ceará)
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Já Sérgio Aguiar (PDT) admite que tem sentido um "clima de
desconfiança" em visitas a municípios do Interior do Estado durante o
recesso parlamentar. Ele aposta, contudo, que o "olho no olho" ainda
é o meio mais eficaz de transmitir confiança no trabalho do político.
"Por isso procuro
participar, discutir, debater e conversar com vários segmentos, para demonstrar
quem sou, o que faço, como defino alguns temas do cotidiano, para que com a
aproximação possa ser superada a desconfiança. Neste recesso, estou no Interior
do Estado realizando variadas atividades em muitos municípios para ficar mais
próximo do povo", expôs.
Dep. Fernanda Pessoa / / (Foto: Assembleia Legislativa do Ceará)
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Embora demonstre preocupação
com a reação do eleitor na busca por votos, Fernanda Pessoa (PR) ressalta o esforço que teve no mandato para
dar "assistência à população". Ela pontua, ainda, a dificuldade de
liberar recursos do Governo do Estado para municípios que estão inadimplentes
ou, ainda, quando os gestores municipais fazem oposição à gestão estadual.
"Primeiro que eu nunca
disse o que ia fazer, sempre disse que ia trabalhar. A gente, no Legislativo, é
diferente do Executivo, que tem uma caneta que você destina e as coisas andam.
No Legislativo, destinamos recursos para aqueles municípios, alguns vão à Casa
Civil, entregam a documentação, levam projetos, aí as coisas andam. Muitos
deles, quando a liderança é da oposição, os recursos não saem do papel. Eu não
preciso convencer (o eleitor), quem conhece sabe das nossas ações",
frisou.
Anular
Fernanda Pessoa relata, porém,
que a falta de credibilidade em parte da classe política tem levado eleitores a
afirmar que vão anular o voto. "Eles dizem: 'ah, a gente vai ficar,
realmente, com esses políticos que estão aí'. Acho que (político) é como
qualquer profissão: existem bons médicos, existem maus médicos, arquitetos,
engenheiros, e as pessoas precisam acreditar que existem pessoas sérias, tem
gente que pensa na população".
Dep. Fernanda Pessoa / / (Foto: Assembleia Legislativa do Ceará)
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Para Mirian Sobreira (PDT), se afastar da população, mesmo com o
ceticismo em relação à classe política, é pior. Ela diz que é preciso deixar
claro que compõe o Legislativo, e não o Executivo, que tem mais facilidades na
execução de demandas. "Isto, às vezes, deixa muito a desejar com relação
às cobranças da população. Estamos sempre cobrando o que a população nos
confiou, até porque é o deputado que está mais próximo do povo e temos que
mostrar que temos políticos e políticos", sustentou.
Com DN/ Política