Conhecido pela “língua afiada”
e por dar pouco peso às consequências de suas falas, o pré-candidato a
presidente Ciro Gomes (PDT) possui lista de pendências na Justiça à altura da
fama. Apenas em ações que correm ou passaram pelo Ceará, o ex-ministro responde
a pelo menos 80 processos que cobram indenizações por dano moral a adversários
políticos. Todas as ações são motivadas por críticas feitas pelo candidato à
imprensa ou durante palestras. A informação tem como base levantamento do O POVO
em dados do Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE). Como processos contra Ciro
podem ter sido abertos no Judiciário de outros estados, o ex-ministro pode
responder a ainda mais ações por ataques contra a honra. A lista de adversários
do ex-ministro na Justiça é grande e diversa, incluindo até o ex-presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ), a quem Ciro chamou de “o maior bandido” do
País. Outros casos incluem o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que
processa Ciro após ser chamado de “farsante” e “engomadinho que vive com o
beiço cheio de botox”. O “número 1“ da lista é o presidente do Senado, Eunício
Oliveira (MDB), com 37 processos contra Ciro. Entre os ataques, estão os de
“aventureiro, mentiroso, lambanceiro” e até pinotralha - “uma mistura de Pinóquio
com irmão metralha”, explica o próprio Ciro.
Para o cientista político
Oswaldo Dehon, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), o estilo
“assertivo” de Ciro não significa necessariamente um “prejuízo” ao candidato.
“É difícil avaliar se ele perde com isso. O Brasil está vivendo um período de
excessos de candidatos. Vários têm demonstrado esse tom, o Ciro não está
sozinho”, avalia.
“Temos candidatos como Jair
Bolsonaro e até o Lula, que já se notabilizaram por alguns excessos verbais”, cita.
O próprio Bolsonaro é um dos que acionaram Ciro na Justiça, após o pedetista
acusá-lo de ter recebido dinheiro ilegal da JBS/Friboi na campanha eleitoral de
2014.
O cientista político ainda
avalia que, a julgar pelo histórico do ex-ministro, ele dificilmente alterará o
tom dos discursos. “Até porque parte das redes sociais já incorporaram esse tom
mais assertivo, esse linguajar popular, à candidatura. E o fato de ele se
exceder não quer dizer que ele diga coisas irrelevantes ou negativas, ou coisas
que o público não gostaria de ouvir“.
Daquele outro lado tem uma
mistura de Pinóquio com irmão metralha. (...) Um pinotralha"
CIRO GOMES, contra Eunício
Oliveira, durante campanha de Camilo Santana ao Governo em 2014
Adversário que já obteve a condenação de Ciro
em R$ 30,6 mil por conta de ataques, o deputado estadual Capitão Wagner (PR)
condena o estilo do ex-ministro. “Criticar é natural, agora acusar, caluniar,
criar factoides atribuindo crime a alguém, isso não faz parte do jogo político.
Isso é crime e ele tem que responder por isso”, diz.
A reportagem tentou contato com
Ciro Gomes, mas não obteve resposta de sua assessoria. Em entrevistas recentes
sobre os casos, no entanto, o candidato tem feito pouco caso dos processos,
chegando diversas vezes a “aproveitar a deixa” para reiterar as acusações
contra adversários. Nos autos dos processos, a defesa de Ciro alega que as
afirmações seguem apenas a liberdade de expressão. Em alguns dos casos, ela
alega ainda que o tom “assertivo” faz parte do jogo eleitoral, sendo o próprio
Ciro alvo de diversos ataques pessoais.
Quem tem mais ações contra Ciro
EUNÍCIO OLIVEIRA (MDB) Autor de 37 ações por dano moral, já foi chamado de “aventureiro, lambanceiro, mentiroso” e até “pinotralha”
GAUDÊNCIO LUCENA (MDB) Braço-direito de Eunício, move cinco processos contra Ciro, que já acusou Gaudêncio de fazer tráfico de influência
CAPITÃO WAGNER (PR) Já foi acusado de chefiar “milícia ligada ao narcotráfico” diversas vezes por Ciro. Já obteve condenação, em 1ª instância
Quem já processou o ex-ministro
EDUARDO CUNHA (MDB-RJ) Alvo recorrente, Cunha já processa o ex-ministro há vários anos. Num dos embates, Ciro o chamou de “maior bandido do Brasil”
JAIR BOLSONARO (PSC-RJ) Processou Ciro, após o ex-ministro dizer que Bolsonaro recebeu dinheiro ilegal da JBS/Friboi na campanha eleitoral de 2014
JOÃO DORIA (PSDB-SP) Ingressou com ação contra Ciro em julho passado, após ser acusado de enriquecer com dinheiro público
MICHEL TEMER (MDB) Ciro foi condenado a pagar indenização de R$ 30 mil a Temer após chamá-lo de "ladrão fisiológico" e "chefe de quadrilha"
FERNANDO COLLOR (PTB-AL) Justiça condenou Ciro a pagar R$ 100 mil de indenização a Collor. Em 1999, o ex-ministro disse que Lula deveria ter chamado Collor de "playboy safado" e "cheirador de cocaína" nas eleições de 1989
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (PSDB) Ciro foi condenado em 2008 por ter dito que o ex-presidente tinha "horror a preto, pobre e nordestino"
80 processos por dano moral contra Ciro Gomes tramitam ou passaram pelo Ceará
37 dessas ações são movidas pelo senador Eunício Oliveira (MDB)
Fonte: O POVO Online