Três ex-funcionários da
Secretaria do Esporte do Ceará (Sesporte) e outros dois acusados foram presos
ontem na operação “Bola da Vez”, que apura supostos desvios na pasta entre 2009
e 2013. Entre os presos, estão duas pessoas ligadas ao deputado Gony Arruda
(PSD), titular da pasta na época. Segundo o Ministério Público do Ceará
(MP-CE), supostos desvios podem chegar a R$ 47 milhões.
De acordo com o promotor Marcos
William Oliveira, irregularidades ocorriam por meio de convênios entre a
Sesporte e ONGs. Segundo ele, entidades venciam licitações e firmavam convênios
para realização de eventos esportivos diversos, que nunca ocorriam ou eram
realizados em condições “bem distantes do combinado”. Certames investigados
foram assinados na gestão de Gony na pasta.
Entre os presos, estão três
ex-funcionários da Sesporte: Vera Silvia Bezerra, servidora de carreira hoje
aposentada, Raimundo Nonato Chaves Júnior, ex-diretor administrativo, e Newton Beviláqua
Dias Júnior, ex-assessor jurídico. Completam a lista Clidenor Santos, diretor
da ONG Ciranda da Vida, e o empresário Raimundo Lima Filho.
Apenas as prisões de Vera
Silvia e Clidenor são temporárias, com prazo máximo de cinco dias. Os demais
presos ainda não possuem data para soltura. Um sexto mandado de prisão, contra
Fernando Antônio Oliveira Marques, chegou a ser expedido, mas o acusado seguia
foragido.
Gony Arruda
Presos ontem, tanto Newton
Beviláqua quanto Raimundo Nonato estão hoje na folha da Assembleia Legislativa
do Ceará por indicação de Gony Arruda. Enquanto o primeiro ocupa cargo de
assessor no gabinete do deputado, o segundo está lotado na 1ª vice-presidência
da Casa.
O atual 1º vice-presidente da
Assembleia, Tin Gomes (PHS), nega, no entanto, ter qualquer relação com o
acusado. Ele destaca que lotação vem de 2007, época em que Gony ocupava a 1ª
vice-presidência do Legislativo. “Essa indicação veio de muito antes de eu
assumir esse cargo. Eu não o conheço e ele não frequenta o gabinete”, disse.
Procurado pelo O POVO, o
ex-secretário rejeitou qualquer envolvimento no caso. Ele diz que a Ciranda da
Vida, uma das entidades acusadas, já prestava serviços ao Estado antes de sua
gestão. Diz ainda que um dos frutos da parceria, o “Esporte na minha cidade”,
era um dos programas “mais elogiados e demandados” durante sua gestão na
Sesporte.
“Durante o período em que
estive à frente (da pasta), todos os projetos foram realizados. Convênios que
foram fechados fizeram os serviços contratados. Quando tinha algum problema,
sempre informávamos”, afirma Gony, que diz ter fotos e vídeos provando eventos.
Além da Ciranda da Vida, outras 4 ONGs são investigadas pelo MP.
NÚMEROS
5 pessoas foram presas entre
desdobramentos da “Bola da Vez”
47 milhões é o total de desvios
da pasta apontados pelo Ministério Público
Saiba mais
As prisões decorrem de ação
deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado
(Gaeco), em parceria com a Procuradoria dos Crimes contra a Administração
Pública (Procap), o Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc) e as Polícias Civil
e Militar.
Segundo o promotor Marcos
William Oliveira, planos de trabalho dos convênios eram fraudados para permitir
pagamentos indevidos, sem a contraprestação de serviços ou de compras feitas
para os eventos. Segundo ele, até a aquisição de material era fraudulenta,
sendo direcionada para algumas empresas.
Ele afirma que algumas das ONGs eram gestadas
dentro da própria Sesporte, tendo terceirizado da pasta como seus diretores.
“Em alguns casos, chegou ao cúmulo de que até o talão de cheques do convênio
ficava com o gestor”. Eventos envolviam ações como campeonatos esportivos para
estudantes, eventos para idosos e ações em praças do interior do Estado.
(O POVO Online)